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Inflação: dois conceitos em duas situações

Jorge Jatobá (Artigo publicado no JC)
20 de Setembro de 2024

20 - Set

Há situações em que aumentos de preços decorrem de choques vindos do lado da oferta, ou seja, disrupção nos suprimentos das cadeias produtivas

A Inflação é conceituada como o crescimento persistente do nível geral de preços medido por um indicador que, no Brasil, é o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA). Uma das causas da inflação é quando a demanda agregada composta pelo consumo das famílias, investimento privado, governo (consumo e investimento) e exportações (procura externa) no seu conjunto, ou subconjunto, se situa acima ou no limite da capacidade produtiva da economia, ou seja, quando a oferta agregada não consegue atender a demanda em expansão. Neste caso, os preços tendem a subir gerando a denominada inflação de demanda.

Todavia, há situações em que aumentos de preços decorrem de choques vindos do lado da oferta, ou seja, interrupção nos suprimentos das cadeias produtivas, gerando escassez e o consequente aumento de preços. Isso foi o que aconteceu em escala mundial durante a Pandemia do Covid 19. A inflação assolou os Estados Unidos, Europa e Brasil levando os bancos centrais a elevar os juros, arma ineficaz quando a inflação decorre de choques de preços. No caso da inflação de demanda, porém, a elevação de juros é geralmente eficaz para conter a procura por bens e serviços pois torna o crédito mais caro para as famílias e os investidores, inibindo o consumo e o investimento. A única forma de conter choques de preços é elevando a oferta dos elos escassos das cadeias produtivas. Juros não funcionam nessa situação.

Uso esses conceitos para analisar duas situações: uma nos Estados Unidos e a outra no Brasil. No caso americano, o Governo Joe Biden tem sido criticado por republicanos liderados pelo ex-Presidente e agora novamente candidato Donald Trump por ser responsável pela inflação de perto dos 10% ao ano que assolou os Estados Unidos entre 2021 e 2023, embora decrescente durante o período. Agora, agora em 2024, a inflação cedeu para 2,5% em agosto, em termos anuais, sinalizando que a próxima reunião do Federal Reserve, o Banco Central americano vai ser a de começar a reduzir a taxa básica de juros daquele país que hoje se situa entre 5,25% e 5,5%. O que fez, todavia, a inflação ceder não foi, isoladamente, o aumento dos juros, mas o restabelecimento das cadeias de suprimento que foram interrompidas durante a pandemia. Os bancos centrais não têm influência direta sobre as cadeias globais de valor. Contudo, a culpa foi politicamente colocada nas costas de Biden, tornando-se durante a campanha eleitoral americana em crítica a sua Presidência e a de sua Vice agora candidata competitiva de Trump. Uma falsa narrativa que está sendo disseminada entre os eleitores americanos nesta polarizada eleição presidencial.

A outra situação ocorreu no Brasil quando foram anunciadas as taxas de crescimento da economia de 1,4% no segundo trimestre em relação ao primeiro trimestre deste ano. O mercado financeiro em vez de se animar, regrediu no dia seguinte ao anúncio do bom desempenho da economia no primeiro semestre de 2024 em relação ao de 2023 (2,9%). Motivo da preocupação: a inflação. A premissa é que o crescimento da economia iria gerar uma inflação de demanda. Isso só seria verdadeiro se a capacidade instalada para a produção (oferta agregada) de bens e serviços não suportasse a expansão da demanda. Ou seja, a demanda bateria no teto da oferta, levando ao aumento de preços. Para aumentar a oferta é necessário investir para elevar a capacidade da economia de produzir mais bens e serviços. Se a taxa de investimento público (infraestrutura econômica e social e empresas estatais) e privado (construção e ampliação de unidades produtivas, aquisição de máquinas equipamentos, edificações, etc.) subir substancialmente a capacidade da economia vai se ampliar para acolher o aumento da demanda, gerando crescimento sem inflação. Os agentes econômicos têm razão em se preocupar se a taxa de investimento estagnar ou declinar. O investimento público depende cada vez menos de recursos do orçamento, mas parcerias pública-privadas podem e devem avançar. O investimento privado, por sua vez, pode se elevar se houver melhoria no ambiente de negócios e se novas fontes de financiamento seja por ações, debêntures ou fundos de investimento prosperarem. O que não se deve é partir do princípio de que mais crescimento gera necessariamente inflação. Com a palavra os investidores privados que podem identificar na expansão da atividade econômica novas oportunidades de investimento e de financiamento.

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